terça-feira, 16 de agosto de 2011

Santa Beatriz da Silva e Menezes, Fundadora - Festejada 17 de agosto

     Na Reconquista, uma das últimas vitórias sobre os árabes para o reino de Portugal foi Ceuta (1415). O capitão desta façanha, e primeiro governador da cidade conquistada, foi D. Pedro de Menezes, Conde de Vila Real e descendente dos reis de Castela. Na conquista de Ceuta, o cavaleiro D. Ruy Gomez de Silva havia participado com bravura e seu comportamento lhe mereceu o apreço do capitão a ponto de lhe dar a mão de sua filha Isabel.
     Beatriz da Silva e Menezes nasceu no ano de 1424 em Celta, quando esta cidade pertencia a Portugal. Era a oitava filha de Ruy Gomes da Silva, Senhor de Campo Maior, e de Isabel de Menezes, filha de D. Pedro de Menezes. Por via materna, descendia também dos condes de Ourém e Barcelos. O casal teve 11 filhos, educados por franciscanos, que lhes inculcaram sólidos princípios cristãos e um especial amor à Imaculada Conceição. Dos 10 irmãos de Beatriz, é dever mencionar D. João de Menezes da Silva, o Beato Amadeu.
     Beatriz da Silva era uma jovem de grande beleza, conforme testemunha um relato da época: "além de vir de sangue real, era mui graciosa donzela e excedia a todas em formosura e gentileza".
     Desde cedo Beatriz foi preparada para a vida na Corte. Além da formação humana, os primeiros 21 anos de sua vida ela os passou entregue à devoção e às obras de caridade. Visitava freqüentemente Jesus Sacramentado na Igreja Matriz e desde pequenina Nossa Senhora era seu exemplo a seguir.
     Chamada ao Paço Real de Lisboa, Beatriz tornou-se dama da infanta Dona Isabel, quatro anos mais nova que ela, filha do infante D. João, o penúltimo dos filhos de D. João I de Portugal.
     Em 1447, a infanta Dona Isabel contava dezenove anos. Seu tio, regente do reino, promoveu os seus esponsais com D. João II de Castela, que então se achava viúvo. Uma vez rainha, Isabel, ambiciosa, começou por afastar a influência do Condestável de Castela, D. Álvaro de Luna, e criou intrigas na corte, algumas das quais envolvendo a jovem Beatriz, cuja beleza não passara despercebida.
     Beatriz atraía a atenção de toda a Corte por seu porte senhorial, por sua sensatez e beleza. A Rainha, despeitada, a perseguia e maltratava. Segundo a tradição, Isabel teria fechado Beatriz num estreito baú, onde eventualmente a falta de oxigênio acabaria por tirar-lhe a vida.
     Após três dias, o tio de Beatriz, Dom João de Menezes, que também se encontrava na corte, estranhando a sua ausência perguntou à rainha onde estava a sobrinha. Ela então o conduziu ao baú onde a encarcerara, certa de encontrá-la morta. Desceram até os subterrâneos do Palácio de Tordesilhas, no Alcácer de Valladolid, e, para seu grande espanto, Beatriz tinha sobrevivido. Ela havia invocado a Virgem Maria que lhe aparecera e comunicara que a salvaria, e que ela deveria fundar uma Ordem religiosa que celebrasse o mistério da Imaculada Conceição.
     Beatriz perdoou a rainha, que dera mostras de arrependimento, retirou-se da Corte e ingressou no Convento de São Domingos o Real, de Toledo. Ali viveu como monja, sem professar, preparando-se, e a um pequeno grupo de companheiras, para ingressar na nova Ordem que Nossa Senhora a designara fundar.
     Como nos conta Sóror Catarina, Beatriz "florescia em todas as virtudes e comia parcamente; era tida por santa e obrava milagres, se distinguiu sempre por sua humildade e obediência às superioras" do dito Convento de São Domingos o Real. Sua vida era verdadeiramente exemplar: dos bens que possuía reservava uma modesta parte para si, usando todo o resto em esmolas e outras obras de piedade.
     Beatriz viveu naquele convento por trinta anos. "Poucas vezes uma fundadora terá sido preparada tão profunda e prolongadamente para a sua missão".
     No ano de 1484, a Virgem Santíssima julgou que, após longos anos vividos na obscuridade do claustro, ela estava pronta para executar sua obra: deu-lhe a ordem longamente esperada e um período de intensa atividade se iniciou.
     A Rainha Isabel, a Católica, que nutria grande admiração por Beatriz, lhe concedeu os palácios de Galiana e o Mosteiro de Santa Fé. Foi neste mosteiro que Beatriz conseguiu enfim estabelecer, com mais doze religiosas, a Ordem da Imaculada Conceição, ou das Concepcionistas Franciscanas, um ramo da Ordem dos Frades Menores. As religiosas deviam usar o hábito azul e branco, as cores de Nossa Senhora da Conceição, e se dedicar unicamente à vida contemplativa.
     Em 30 de abril de 1489, o Papa Inocêncio VIII expediu a bula Inter Universa, que autorizava a constituição das Concepcionistas. A Bula foi levada solenemente da Catedral de Toledo até o Mosteiro de Santa Fé.
     Santa Beatriz recomendava às suas religiosas grande pureza de coração, amor a Jesus e uma particular devoção a Imaculada Conceição: "Considerem as Irmãs atentamente que sobretudo devem desejar ter o Espírito do Senhor e a sua santa atuação, com pureza de coração e oração devota; purificar dos desejos terrenos e das vaidades do século a consciência; e tornar-se um só espírito com Cristo seu Esposo, pelo amor".
     A festa da profissão de Beatriz e das suas doze companheiras já tinha sido marcada pelo Bispo de Toledo quando a Santíssima Virgem de novo lhe apareceu dizendo: - "Dentro de dez dias virei buscar-te, porque não é vontade de meu Filho que gozes aqui na terra o que tanto desejastes".
     Beatriz cobria o seu belo rosto com um véu branco desde que saíra da Corte de Tordesilhas, a fim de ocultar a beleza que fora causa de tantos desgostos e dissabores. E assim viveu no Convento de São Domingos o Real e depois no seu Convento definitivo.
     No momento de sua agonia, quando o véu foi erguido para que ela recebesse a Extrema Unção, admirados os presentes viram saírem raios de luz de seu rosto, iluminando todo o aposento: uma estrela luminosa se fixou em sua testa e ali permaneceu até seu último suspiro.
     Antes de comparecer diante de Deus, Beatriz recebeu o hábito branco e azul, como Nossa Senhora lhe havia prometido, e fez a sua profissão religiosa nas mãos de um sacerdote franciscano, morrendo como uma verdadeira Concepcionista. A Fundadora faleceu dia 17 de agosto de 1490, aos 66 anos de idade, em Toledo, onde jazem suas relíquias.
     O povo já a cultuava como Santa antes mesmo de a Santa Sé a canonizar, e assim continuou por muito tempo, pois a Igreja Católica só a elevou aos altares em 28 de julho de 1926: Pio XI a beatificou e aprovou o culto que já lhe era dado há tantos séculos. Em 3 de outubro de 1976, ela foi canonizada por Paulo VI.
     Santa Beatriz da Silva é festejada no dia 17 de agosto, ou no dia 1º de setembro.
     Na Espanha, a Ordem conta com mais de 90 conventos, e há cerca de 120 casas monásticas espalhadas pela Europa e América Latina.
     No Brasil, o célebre Convento da Luz, em São Paulo, fundado em 2 de fevereiro de 1774 por Santo Antonio de Sant'Ana Galvão e por Madre Helena do Espírito Santo, é, há mais de dois séculos, fonte de grandes bênçãos para a cidade e para todo o país.
     Santa Beatriz da Silva se destacou por sua fé inquebrantável, por sua pureza que lhe permitiu ser Lírio Alvíssimo no Canteiro da Imaculada e por todas as suas virtudes - paciência alicerçada na esperança, caridade, simplicidade, humildade, generosidade em oferecer um perdão sincero - indica-nos o caminho mais curto, fácil e seguro para chegar ao Coração de Jesus: Maria Santíssima.

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