terça-feira, 1 de julho de 2014

Santa Monegonda, Reclusa de Tours - 2 de julho


 

     A vida de Santa Manegonda (século VI) foi relatada por São Gregório de Tours no capítulo XIX de sua Vitæ Patrum, e no capítulo 24 de In Gloria Confessorum. Este grande Santo foi contemporâneo de Monegonda e, entre outras informações, diz que embora ela não fosse nobre, pertencia a uma família abastada. Monegonda faz parte de um grupo de personagens contemporâneos do Santo cujas vidas exemplares ele descreve para nossa edificação.
     Santa Monegonda nasceu em Chartres, cidade famosa pela antiga devoção que seus moradores tinham por Nossa Senhora, mesmo antes da Encarnação, pois se acredita que os druidas (assim os gauleses chamavam seus sacerdotes), construíram, muito antes do nascimento do Salvador, uma estátua com esta inscrição: VIRGINI PARITURÆ, isto é, à Virgem que dará à luz.
     Foi também nesta cidade que, para agradar seus pais, nossa Santa comprometeu-se na vida matrimonial; ela teve duas filhas. Mas a alegria que ela teve ao ser mãe não foi de longa duração, porque Deus levou suas crianças logo após o nascimento. Ela ficou privada, por causa dessas mortes, de todo consolo que tinha neste mundo.
     A aflição dessa perda foi tão grande, que ela não cessava de chorar dia e noite, sem que o marido, seus amigos, nem nenhum de seus parentes, pudessem trazer alívio para a sua dor; mas, finalmente, caindo em si mesma, e considerando que a sua tristeza era excessiva e poderia desagradar a Deus, ela tomou a generosa resolução de enxugar suas lágrimas e de dizer o resto de seus dias com Jó: "O Senhor as deu para mim, o Senhor as tomou; Ele fez o que era sua vontade: que o seu santo nome seja bendito para sempre".
   Em seguida, tendo obtido a permissão do marido para levar uma vida de reclusa, ela instalou-se em uma pequena cela que ela mandou construir; ali, vendo a luz do dia através de uma claraboia, ela vivia em um desprendimento total de todas as vaidades do mundo e de todas as delícias dos sentidos, para somente pensar em Deus, em quem somente ela desejava colocar toda a sua esperança.
     Na verdade, todo seu tempo era empregado em se entreter com Ele e a dedicar à sua majestade divina suas fervorosas orações. Ela reservara para si apenas o socorro temporal de uma jovem que tinha como encargo levar-lhe um pouco de farinha de cevada e água (São Gregório de Tours explica que naquela época os santos de boa família, mesmo quando renunciavam a tudo, conservavam ao menos um servo para auxiliá-los). Monegonda mesma fazia para si a comida, uma espécie de massa à qual ela acrescentava cinzas; ela só a comia depois de já estar enfraquecida por longos jejuns.
     Monegonda vivia feliz em seu retiro, quando Deus, para testar sua paciência, permitiu que sua serva a abandonasse. A Santa ficou cinco dias sem que alguém lhe levasse algum alimento, mas, em vez de se preocupar com isso, ela se manteve calma e unida a Deus, esperando que como outrora Ele enviara o maná do céu e fizera sair água de uma rocha para alimentar o seu povo no deserto, Ele teria a bondade de suprir suas necessidades para que não fosse forçada a deixar a sua solidão.
     Ela estava absorta nesses pensamentos piedosos, quando percebeu que caia neve em torno de sua cela. Isso era tudo o que ela precisava, pois estendendo a mão através da janela ela recolheu o suficiente para fazer a sua massa. Ela passou desta forma por mais cinco dias.
     Próximo de sua cela havia um pequeno jardim onde às vezes ela caminhava para dar um pouco de descanso à sua mente, que ela tinha sempre voltada para Deus. Um dia em que ela aí estava para tomar um pouco de ar, uma mulher, que a viu e parou para observá-la com muita curiosidade, foi atingida imediatamente de cegueira. Reconhecendo que essa desgraça acontecera com ela como punição de seu pecado, ela foi ao encontro da Santa e expondo-lhe a sua desgraça, implorou que ela obtivesse misericórdia. Monegonda, tocada de compaixão, colocou-se logo em oração, dizendo: "Ai de mim, criatura vil e pobre pecadora! Esta mulher perdeu a visão por minha culpa".
     Esta breve oração, reflexo de uma profunda humildade, penetrou imediatamente no céu, pois mal Monegonda a tinha terminado e feito o sinal da cruz sobre a pobre mulher, ela recuperou a visão. Este milagre, que foi seguido por vários outros, logo atraiu para sua cela uma grande quantidade de pessoas que vinham para implorar o auxílio de suas orações, o que a obrigou a pensar em outro local de retiro.
     Como ela havia se retirado para fugir das honras do mundo e para levar uma vida escondida, vendo-se exposta às visitas das criaturas em seu pequeno eremitério, ela deixou sua casa, sua família, seu marido e todos os seus conhecidos e foi para a cidade de Tours onde, junto do túmulo do grande São Martinho, ela fixou-se.
     Mas a honra, que não é menos teimosa em seguir aqueles que fogem dela, do que fugir daqueles que são ávidos dela, nunca a deixou mais, nem em sua viagem, nem em seu refúgio, porque ela curava por toda parte vários doentes pela virtude de sua oração, que ela fazia não obstante reconhecer sua indignidade. Esses milagres fizeram com que sua eminente santidade brilhasse por toda parte. A sua reputação chegou a Chartres, tendo como resultado que seu marido a fosse buscar em Tours e a trouxesse de volta para sua primeira cela.
     No entanto, pouco tempo depois, seja porque seu marido tivesse morrido, ou dado seu consentimento, ela a deixou novamente para retomar a de Tours, onde ela passou tranquilamente o resto de seus dias em jejuns, vigílias e orações, e sem o comércio com as pessoas do mundo. Sua caridade, porém, era incapaz de se encerrar em sua cela. Algumas piedosas jovens, atraídas pela solidão, decidiram acompanhá-la e com ela faziam todos os exercícios espirituais. Assim, trabalhando em conjunto na prática da virtude, elas se tornaram mais agradáveis a Jesus Cristo.
    Não vamos dar detalhes de muitos milagres que Deus fez por intermédio dela; é suficiente dizer que ela curou um grande número de doentes com um pouco de saliva; que ela purificou pessoas cobertas de feridas, e que, pelo sinal da cruz, ela libertou os possessos, deu saúde aos moribundos, deu o uso dos membros aos paralíticos e os olhos dos cegos.
     Deus recompensou nesta vida a piedade de Monegonda pelo dom dos milagres, Ele a chamou a si para coroar ainda mais no céu sua incomparável virtude. Suas piedosas companheiras, vendo que a última hora estava perto, disseram-lhe, banhadas em lágrimas:
     - "Vós nos abandonareis completamente? Lembrai-vos que sois a nossa mãe, e que vós nos reunistes aqui para servir a Deus. Então, dizei-nos a quem vós nos recomendais depois de vossa morte, nós que somos suas amadas filhas".
     - "Se a paz reinar entre vós”, disse-lhes ela, “e se continuardes trabalhando para a vossa santificação, o próprio Deus será o vosso protetor, e vós tereis por pastor de vossas almas o grande São Martinho, bispo de vossa cidade. Eu também não vou me afastar de vós: assim que me chamardes para ajudá-las, eu me encontrarei no meio de vossa caridade".
     - "Os doentes”, retomaram as santas mulheres, “certamente virão, como sempre, pedir vossa bênção. O que vamos fazer quando não mais a teremos? Vós desejais que eles saiam daqui sem qualquer alívio, depois de ter recebido tantas graças através de vossa intercessão? Nós vos suplicamos, abençoai pelo menos um pouco de sal e de óleo, a fim de que os apliquemos neles e eles sintam sempre os efeitos de vossa intercessão”.
     Monegonda não podia recusar tal pedido, e esta foi a última ação de sua vida, porque após essa bênção ela morreu em paz, no segundo dia de julho, no sexto século da Igreja (provavelmente antes de 573). As coisas que ela tinha abençoado serviram depois para curar inúmeros doentes.
     Seu corpo foi enterrado na mesma cela que ela havia santificado por suas lágrimas, orações e penitências, e seu túmulo foi honrado por vários milagres que São Gregório de Tours relata, e parte dos quais ele afirma ter presenciado. ...
     A Diocese de Tours não tem mais relíquias de Santa Monegonda. Em 1562 os protestantes tomaram a cidade, saquearam as igrejas e queimaram os corpos dos santos. O de Santa Monegonde, que havia sido transladado para o mosteiro de Saint-Pierre-Puellier, no bairro de Saint-Martin, e aí era conservado, não foi poupado.
     O culto a Santa Monegonda, porém, não desapareceu naquela diocese e igrejas em sua honra ainda hoje são encontradas na França.
 
Fonte: Les Petits Bollandistes; Vies des saints, tomo 7, p. 615 à 617.

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