segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Beata Ludovica Albertoni, Terceira franciscana - 31 de janeiro

     
     Ludovica, ou Luísa, nasceu em Roma, de uma família nobre, os Albertoni, em 1473. Perdeu o pai aos dois anos e, por motivo do segundo casamento da mãe, foi entregue aos cuidados de tias paternas e da avó materna, que lhe deram uma esmerada educação.
     Privilegiada em graça e beleza incomparáveis, Ludovica era admirada e cortejada por muitos jovens da nobreza romana. Mas logo a família prometeu-a ao jovem nobre Giacomo della Cetera. Aos 20 anos casou-se e desse casamento teve três filhas.
     No bairro de Trastevere, onde vai passar a maior parte de sua vida, ela frequenta a Igreja de São Francisco a Ripa, absorvendo a espiritualidade franciscana.
     As suas características mais marcantes foram a fidelidade no cumprimento dos deveres e o amor aos pobres. Dedicou ao marido um santo afeto; por causa do temperamento brusco de seu esposo o casamento é turbulento, mas Ludovica vive com sacrifício e abnegação confiando na graça do sacramento do matrimônio. Educou as filhas com esmero, orientando-as na oração e nas leituras. Dizia-lhes com frequência que preferia vê-las mortas do que em pecado mortal.
     Aos 30 anos, em maio de 1506, ficou viúva, após doze anos de difícil convivência devido à doença e morte de seu marido, mas conseguiu aceitar com resignação esse rude golpe. A morte do marido trouxe-lhe problemas de herança que lhe causaram vexames e humilhações por parte dos parentes. Seu cunhado Domenico, administrador da propriedade, não respeita o direito de sucessão em favor de Ludovica e suas filhas, abrindo assim uma longa e dolorosa controvérsia. Alheia à sua frágil condição de viúva, luta valentemente para que a lei seja aplicada sem demora.  
     Depois de dividir os bens entre as filhas, Ludovica adota a regra da Ordem Terceira de São Francisco e passa o resto de sua vida no cuidado dos pobres. "No passado eu era mais do meu marido e de mim mesma - dizia ela - para poder me dedicar a Ti, ó Jesus, agora vivendo só para mim, deixo de ser eu para ser toda de Ti".
     Sob a orientação dos frades franciscanos da Igreja de São Francisco, na região do Trastevere, passou a trabalhar para os pobres daquela região de Roma. Acompanhou o saque da cidade de Roma, e exerceu incalculável prodigalidade em benefício dos necessitados. Só parte da noite dedicava ao descanso, o resto era para a penitência.
     Costumava repetir: “Como seria possível viver sem sofrimento, quando se contempla o próprio Deus pregado numa cruz?” Todas as manhãs assistia a Santa Missa e recebia devotamente a comunhão. O resto do dia era distribuído entre trabalhos domésticos e assistência aos pobres e doentes, a quem visitava nas próprias casas ou nos hospitais.
     Ludovica abraçou a "Dama Pobreza", a esposa mística de São Francisco de Assis, e, renunciando a qualquer privilégio e riqueza de seu status social, deu tudo para os pobres. Dizia com frequência: “Se Deus nos concedeu bens terrenos de sobejo foi para os compartilharmos com os mais necessitados”.
     Seu extraordinário compromisso com as jovens em perigo, levava-a a corajosamente esforçar-se para levá-las para o bem, ensinando-lhes um trabalho honesto e elevando-as culturalmente.
     Em dezembro de 1532, Ludovica, doente há algum tempo, piora: a notícia se espalha entre as pessoas que tanto ama e que tanto a amam. Amigos e parentes particularmente próximos a procuram, mas quando ela chega mais perto do fim, ela quer ficar sozinha. Seu único companheiro é o Crucificado que segura em suas mãos. Confiando na Santíssima Virgem se despediu deste mundo com as mesmas palavras de Jesus: "Senhor, em tuas mãos recomendo o meu espírito". É o anoitecer de 31 de janeiro de 1533.
     Toda a cidade de Roma deplorou a perda dessa mãe de todos os necessitados. Em conformidade com seus desejos, ela foi enterrada na Capela de Santa Ana na Igreja de São Francisco a Ripa.
    Desde então, o povo romano homenageia continuamente sua grande compatriota com um devoto culto: em 13 de outubro de 1606, o Senado romano “tendo em conta a santidade e as realizações notáveis ​​da Beata Ludovica”, decretou “que todos os anos em seu dia de festa fosse oferecido um cálice e quatro tochas à Igreja de São Francisco em Trastevere”.
     Em 1625 as autoridades de cidade reconheceram Ludovica como Padroeira de Roma, escolhendo o dia 31 de janeiro como o dia de sua comemoração. A partir de 1645 o seu retrato é visto na Capela Palatina entre os Padroeiros da Cidade.
     Em 28 de janeiro de 1671, o Papa Clemente X beatificou a ancestral do Cardeal Albertoni que então encomendou uma grande reforma na capela dedicada a ela na Igreja de São Francisco, que tornar-se-ia o local de sua veneração.
     Em 17 de janeiro de 1674, após a beatificação, e com o reconhecimento das relíquias, seus restos foram transferidos para o altar monumental construído por Gian Lorenzo Bernini.
    Hoje, a Beata Ludovica Albertoni é também Patrona da Ordem Franciscana Secular em Roma.

Fontes: http://en.sanfrancescoaripa.com/beata-ludovica-albertoni

Ferrini-Ramírez, Santos franciscanos para cada día. Asís, Ed. Porziuncola, 2000, p. 35

sábado, 28 de janeiro de 2017

Beata Maria de Pisa, viúva, monja dominicana - 30 de janeiro

     
     A vida desta beata é uma prova de que a santidade não depende das circunstâncias externas; em qualquer estado de vida a pessoa pode se santificar. Muitas vezes pensamos que o sofrimento, quando é muito grande nos impede de continuar o caminho com alegria. A Beata Maria nos mostra que uma dor muito grande pode ser ocasião de uma entrega mais inteira a Deus. Também nos ensina que nos momentos de obscuridade é bom seguir o conselho de pessoas piedosas para que nos ajudem a encontrar o caminho de saída.
     Catarina Boncini nasceu em Pisa, Itália, em meados do século XIV. Filha de uma família da alta sociedade, ainda estava no berço quando viu seu Anjo da Guarda e dele recebeu um aviso que preservou sua vida. Algum tempo depois, ela recebeu uma segunda visita e, a partir daí, estabeleceu-se entre a alma pura da criança e o espírito benfazejo uma misteriosa troca de orações e de graças. Foi nesta escola que Catarina aprendeu os segredos do amor divino.
     Sua vida foi especialmente dramática: enviuvou de Baccio Mancini; e novamente enviuvou de Guilherme Spezzalaste, aos 25 anos. Os vários filhos dos dois casamentos faleceram muito jovens.
     Portanto, na Beata Maria de Pisa encontramos o exemplo de uma serva de Deus que se casou duas vezes e teve muitos filhos, viveu vários anos no mundo como viúva, ingressou em um convento relaxado, o reformou, e, finalmente, fundou uma comunidade de observância religiosa excepcional, na qual morreu numa idade muito avançada em odor de santidade.
     Conta-se que Catarina (Maria era seu nome em religião) aos cinco anos teve uma experiência mística extraordinária. Em um êxtase, ou visão, presenciou a tortura no potro de Pedro Gambacorta, que havia sido acusado de conspirar e fora condenado à forca por seus inimigos. A legenda acrescenta que Catarina rezou com tanto fervor ao presenciar o suplício, que a corda da forca rompeu e os juízes comutaram a pena de morte. Depois disto, a Virgem Maria apareceu à Catarina e lhe ordenou que rezasse todos os dias sete Pai-Nossos e sete Ave-Marias, porque a bondade de Deus a sustentaria nos perigos.
     Catarina casou-se aos 12 anos e teve dois filhos. Seu primeiro esposo morreu quando a beata tinha 16 anos. Cedendo à pressão de sua família, Catarina casou-se pela segunda vez. O novo casamento durou oito anos e dele nasceram cinco filhos. Todos os filhos da beata faleceram muito jovens.
     A família pretendia casá-la pela terceira vez, mas ela se opôs resolutamente e se entregou de alma e corpo às obras de piedade e caridade. Em meio às ocupações, aos cansaços, às preocupações que lhe davam os cuidados com a casa e com a educação de seus filhos, ela soube, administrando ativa e minuciosamente o seu tempo, encontrar o prazer de se entreter com Deus na mais alta contemplação. Sua caridade era inesgotável; jamais um pobre batera em vão à sua porta.
     Ela se alegrava, sobretudo, em consolar os doentes, em cuidar de suas feridas, em oferecer-lhes, juntamente com as esmolas, palavras de paz e consolação. Ela converteu sua casa em hospital. Conta-se que acostumava beber o vinho com que lavava as chagas dos enfermos, e que em certa ocasião experimentou tal doçura ao beber o vinho, trazendo força à sua natureza, que chegou a convencer-se em seu foro íntimo de que o misterioso doente a quem havia atendido era o próprio Salvador.
     Catarina fez votos de jejuar quatro vezes por semana, de manter uma dura disciplina quotidianamente e de não se permitir o mais ligeiro repouso que não fosse sobre um leito de tábuas de madeira.
     Naquela época de sua vida Catarina estava sob a direção dos dominicanos, em cuja Ordem Terceira havia ingressado. Provavelmente foram aqueles religiosos que a colocaram em contato com Santa Catarina de Siena, de quem ela se tornou discípula. Ainda se conserva uma carta que aquela Santa escreveu a "Monna Catarina e Monna Orsola ed altre donne di Pisa" (Sra. Catarina e Sra. Úrsula e outras senhoras de Pisa).
     A conselho de Santa Catarina de Siena, Catarina ingressou no convento dominicano relaxado da Santa Cruz com o objetivo de restabelecer nele a estrita observância. A beata conseguiu reformá-lo, mas aspirava por uma vida de maior perfeição. Assim, junto com a Beata Clara Gambacorta, saiu do convento de Santa Cruz para fundar outra comunidade em um convento construído com essa finalidade pelo pai de Clara, o mesmo Pedro Gambacorta por quem Irmã Maria havia rezado.
     Deus abençoou a nova fundação, que se converteu em um modelo de vida religiosa, famoso em toda Itália. Neste convento a Beata Maria Mancini faleceu em 22 de janeiro de 1431. Seu culto foi aprovado em 2 de agosto de 1855 pelo Papa Beato Pio IX.
     Seu corpo foi venerado por vários séculos no seu Mosteiro de São Domingos, em Pisa. O mosteiro foi destruído por bombardeios na 2ª guerra mundial. A igreja passou a pertencer a Ordem de Malta. As monjas compraram o Palácio Serafim e o transformaram em mosteiro e para ali levaram as relíquias das Beatas Maria e Clara.
     Hoje as relíquias são custodiadas pelas irmãs da Congregação das Dominicanas de Santa Catarina, pois as monjas, por serem em pequeno número, se uniram a outras comunidades de monjas dominicanas da Itália.
     A Beata se distinguiu pelas duras penitências, visões místicas e por um admirável zelo pelas almas do Purgatório. A Ordem Dominicana a recorda no dia 30 de janeiro.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Beata Arcângela Girlani, religiosa - 25 de janeiro

   
     
     Há discrepâncias sobre a data de seu nascimento, pois o dia 25 de janeiro aparece como o dia de seu nascimento, da tomada de hábito e de sua morte. Ela nasceu no ano de 1460 em Trino de Montferrato, diocese de Vercelli, na influente família Girlani. Seus pais João e Ângela puseram-lhe o nome de Eleonora. Teve duas irmãs.
     Segundo o "Commentaria fratrum sororum et Mariae Virginis de Monte Carmelo Congregationis Mantuanae", muito menina foi enviada por seus pais a um mosteiro de clarissas para ser formada, onde ao se tornar adulta pensou em professar. O maior inconveniente era a proximidade e a influência de sua família naquele mosteiro, o que a impediria de levar uma vida religiosa oculta.
     A célebre Congregação Mantuana, que em inícios estava em todo seu esplendor, fundou em 1465 um convento de monjas carmelitas de clausura em Parma, o Mosteiro de Santa Maria Madalena, e nele, no ano 1477, vestiu o hábito Eleonor, mudando seu nome pelo de Arcângela. Com ela entraram também suas irmãs Maria e Francisca, em religião Maria e Escolástica.
     Arcângela era devota dos mistérios da Natividade e da Paixão. Promoveu a devoção à Santíssima Trindade como remédio de todos os males. Ela era amante da pobreza. Não tocava no Breviário sem antes lavar as mãos em reverência a Deus.
     Para imitar a mortificação de Nosso Senhor Jesus Cristo, se vestia de áspero cilício, jejuava frequentemente a pão e água, tomava disciplina e se dedicava à oração e à leitura da vida dos santos. Muitas vezes era arrebatada em êxtase durante a oração. Uma noite da Natividade de Jesus, cantando as Matinas, permaneceu em êxtase até a hora Prima. Em uma Sexta-feira Santa, descalçando-se para ir adorar a Cruz de Nosso Senhor, foi arrebatada em êxtase e permaneceu assim todo o dia.
     Este amor de Deus tinha que se extravasar em amor ao próximo e, efetivamente, ela era o consolo da cidade de Mântua, que em seus reveses e desgraças acudiam todos a Beata Arcângela em busca de remédio, conseguindo, por sua mediação, toda sorte de favores.
     Em poucos anos foi eleita priora do mosteiro de Parma. Foi desde então o refrigério e a consolação de todas as monjas e entre elas a mais humilde e serviçal. Consolava as enfermas com carinho maternal e lhes fazia considerações oportunas, animando-as a sofrer com resignação. Quinze anos levava residindo no convento de Parma, santificando-se e santificando a suas religiosas com seu bom exemplo e a heroicidade de suas virtudes, quando os superiores determinaram fazer uma nova fundação de monjas em Mântua e a elegeram para esta obra.
     Com grande sacrifício obedeceu e, habituada aos caminhos do Senhor, em Mântua inicia a mesma vida que seguia em Parma. Os habitantes de Mântua logo se deram conta do bem que Deus lhes havia proporcionado com o convento das carmelitas. As mães levavam suas filhas para que a Beata Arcângela as instruísse nos caminhos do Senhor. O efeito não se fez esperar: sete daquelas jovens tomaram o hábito e sob sua direção se santificaram no claustro. A Beata deixou como priora deste convento sua irmã Escolástica.
     A Beata também fundou os conventos de São Barnabé e Santa Maria dos Anjos em Florença. Em 1492 fundou o de Santa Maria do Paraiso, onde viveu três anos, até sua morte.
      Quando depois de penosa enfermidade, sentindo que sua hora chegara, reuniu suas monjas para as exortar e lhes dar, à maneira de testamento, seus últimos conselhos. Expirou dizendo: “Jesus, amor meu, tem piedade de mim”. Nesse mesmo instante ela apareceu a sua irmã Escolástica, em Parma. Era o dia 25 de janeiro de 1495. Foi enterrada em um túmulo como todas as monjas e logo o seu corpo incorrupto foi trasladado para uma urna sob o coro, como resultado dos muitos milagres que ela obtinha de Deus.
     Consta que em 25 de maio de 1499 foi celebrada a primeira missa em sua homenagem, a pedido dos marqueses Francisco e Isabel de Gonzaga, fundadores do mosteiro e parentes do bispo, Ludovico Gonzaga. Em 1612, Domenico Zambono publicou a primeira “vitae” (hoje desaparecida) conhecida da Beata Arcângela, em tom de louvor, com uma extensa relação de virtudes, penitências, milagres junto a seu túmulo.
     Em 1782, o Imperador José II da Áustria suprimiu o mosteiro e o corpo incorrupto da Beata Arcângela foi preservado com uma solução embalsamatória, e foi trasladado para Trino. Em 1802 foi trasladado para a Igreja de São Lourenço, onde permanece até hoje.
     Em 1º de outubro de 1864, o Beato Papa Pio IX aprovou o culto imemorial e concedeu à Ordem celebrar sua memória no dia 29 de janeiro, e na cidade de Trino e na diocese de Vercelli, no dia 27 do mesmo mês. Suas irmãs, Maria e Escolástica, também receberam culto como beatas, mas que nunca foi confirmado e se perdeu com o tempo.
     Em 1932 o corpo foi novamente descoberto e se viu que o procedimento químico para conservar o corpo havia sido mal feito e em alguns locais a carne havia pulverizado. Foi colocada uma máscara de prata no rosto e nas mãos. Em 1960, numa última análise, o corpo ainda se encontrava flexível e algumas partes bem conservadas.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Venerável Mary Ward, fundadora do Instituto de Maria – 23 de janeiro

    
    Mary Ward nasceu em 23 de janeiro de 1585; faleceu em 30 de janeiro de 1645. Era filha mais velha de Marmaduke Ward e Úrsula Wright, e ligado por sangue com a maioria das grandes famílias católicas de Yorkshire.
     A família de Mary pertencia à nobreza rural de Yorkshire que havia permanecido fiel a fé católica. A filha mais velha dos Ward, ficou mais ou menos marcada pela execução dos membros da realeza: em 1587 (quando Mary tinha dois anos) Maria Stuart foi executada; quatro anos depois, em 1649, o rei Carlos I foi decapitado. Apesar de tudo isto, a disposição interior de Mary quase nunca chegou a atingir uma nota trágica.
     Durante a infância e juventude, com seu espirito vivo, presenciou a perseguição aos católicos de sua pátria por parte da igreja anglicana. Assim, pela fé nenhum sacrifício lhe parecia excessivo, viu de perto os intrépidos missionários, provavelmente também foi testemunha de registros familiares e viu como tinham que esconder sacerdotes católicos e objetos sagrados. Ouvia relatos sobre os mártires que davam sua vida. Nesse tempo tão duro foi crescendo e a luta enfrentada pela família, pela pátria e pela fé acompanharam-na ao longo de sua vida.
     Não foi uma menina mimada. Durante um incêndio na casa paterna, Mary, junto com suas irmãs implorou o auxílio de Nossa Senhora rezando o Rosário. O pai salvou suas três filhas e a casa ficou reduzida a cinzas!
     Em 1606, aos 21 anos, Mary deixou sua família, com o consentimento de seu confessor e foi para Saint-Omer (uma cidade pequena dos Países Baixos espanhóis, a uns 30 k de distância de Calais, França) acompanhada da Sra. Bentley, aos cuidados de quem tinha sido encomendada. Entrou num convento de Clarissas em Saint-Omer como irmã leiga. No ano seguinte fundou uma casa para inglesas em Gravelines, mas não se sentindo chamada à vida contemplativa, resolveu dedicar-se ao trabalho ativo.
     Com vinte e quatro anos de idade viu-se cercada por um grupo de companheiras dedicadas, determinadas a trabalhar sob sua orientação. Em Londres, a vida edificante de Mary e suas palavras persuasivas ganharam várias jovens damas da nobreza para o serviço do Esposo Divino. Inspiradas por seu exemplo e para fugir às ciladas do mundo, partiram com ela para Saint-Omer, para servir Deus no estado religioso sob a direção de Mary.
      Em 1609 estabeleceram-se como uma comunidade religiosa em St. Omer, e abriram escolas para ricos e pobres. O empreendimento foi um sucesso, mas foi uma novidade, e atraiu censura e oposição, bem como elogios.
     Sua ideia era permitir que as mulheres fizessem pela Igreja, em seu próprio campo, o que os homens faziam por ela na Companhia de Jesus. A ideia foi realizada uma e outra vez nos tempos modernos, mas no século XVII encontrou pouco incentivo. As freiras não clausuradas eram uma inovação repugnante aos princípios e tradições de longa data então prevalentes. O trabalho das mulheres religiosas era então limitado à oração e aos bons serviços para o próximo que podiam ser feitos a partir das paredes de um convento. Havia outras diferenças surpreendentes entre o novo instituto e as existentes congregações femininas: a ausência de reclusão, a não obrigação do coro, do hábito religioso e da jurisdição do bispo diocesano.
Mary e companheiras partem para St Omer
     Além disso, seu projeto foi apresentado em uma época em que havia muita divisão entre os católicos ingleses, e o fato de ter-se baseado tanto na Sociedade de Jesus (também objeto de suspeita e hostilidade em muitos lugares) aumentou a desconfiança que ele inspirou. Seus oponentes pediram um pronunciamento da autoridade quanto ao status e aos méritos de seu trabalho. Já em 1615, Suarez e Lessius tinham sido solicitados a opinar sobre o novo instituto. Ambos elogiaram seu modo de vida. Lessius sustentava que a aprovação episcopal bastaria para torná-lo um corpo religioso; Suarez sustentou que seu objetivo, organização e métodos, sem precedentes no caso das mulheres, exigiam a sanção da Santa Sé.
     São Pio V havia declarado que os votos solenes e a rigorosa clausura papal eram essenciais para todas as comunidades religiosas femininas. Esta lei dificultava a propagação de seu instituto em Flandres, na Baviera, na Áustria e na Itália, o que a fez recorrer à aprovação formal da Santa Sé. A Arquiduquesa Isabel, o eleitor Maximiliano I e o imperador Fernando II acolheram a congregação em seus domínios e, juntamente com homens como o cardeal Federico Borromeo, o frei Domingos de Jesus e o padre Mutio Vitelleschi, general da Companhia de Jesus, que tinham singular veneração pela fundadora.
     Em 1626, quando Mary estava indo para Munique pela primeira vez, não distante de Isarberg, ela disse para suas companheiras que Deus havia revelado para ela em oração que Sua Alteza o Eleitor proveria uma boa casa para elas e meios de subsistência. Isto efetivamente ocorreu logo depois da chegada delas em Munique.
     No Natal de 1626, Mary assistiu a Santa Missa na Igreja dos Capuchinhos de Munique e rezou com fervor ao Salvador recém-nascido pela conversão do Rei da Inglaterra. Deus revelou-lhe o infinito amor que Ele tinha pelo Rei e quanto Ele desejava que ele gozasse com Ele a eterna glória, mas era preciso a cooperação do Rei.
     Paulo V, Gregório XV e Urbano VIII mostraram sua grande bondade e falaram em louvor ao seu trabalho, e em 1629 ela foi autorizada a defender pessoalmente sua própria causa diante da congregação de cardeais indicada por Urbano VIII para examiná-la. As "Jesuitesas", como sua congregação foi designada por seus oponentes, foram suprimidas em 1630.
     Em 7 de fevereiro de 1631, Golla, deão de Frauenkirche de Munique, conduziu a fundadora a uma cela de prisioneira no convento das Clarissas de Anger. Sem rebelar-se, mas profundamente afetada, Mary se deixou conduzir. Era suspeita de heresia, de cisma, de rebelião, o maior sofrimento possível para esta filha fiel da Igreja. Durante as nove semanas de prisão continuou sendo uma mulher forte, sem ressentimentos. O Deão Golla permitiu que suas companheiras lhe levassem comida duas vezes ao dia. Das prisões inglesas estas mulheres conheciam o procedimento de escrever com sumo de limão, que rapidamente era absorvido pelo papel e se tornavam legíveis diante do fogo. Assim Mary Ward, a quem tinha sido proibida qualquer correspondência, pode se comunicar com suas companheiras.
     As cartas escritas no convento de Anger são hoje um tesouro precioso para se conhecer Mary nestas difíceis semanas. Ela sentia fortes dores causadas por pedras nos rins. Apesar disto, escrevia: “Tenho ainda muita saúde e força para meu Mestre e Senhor e em seu serviço... Quem sabe o que Deus pretende com todos esses acontecimentos? Realmente não o sabem eles [os que haviam provocado] nem eu o sei; também não quero saber de nada e não ter outra vontade além da Sua... Sejam alegres e não duvidem de nosso Mestre”.
     Em fins de março sua vida estava ameaçada. Para poder receber os últimos Sacramentos tinha que assinar um documento que lhe pareceu uma retratação; assim, redigiu um documento próprio, afirmando mais uma vez sua fidelidade ao Papa e a Igreja. Também defendia sua inocência, sem manifestar a mínima queixa. Recebeu os Sacramentos e as companheiras foram despedir-se dela no convento de Anger. Em 14 de abril, após um restabelecimento que assombrou os médicos, ela voltou para Paradeiserhaus.
     Em dezembro de 1636 sua saúde piorou. Em 30 de julho de 1637 lhe administraram os últimos Sacramentos. O papa, que nos últimos anos havia proporcionado um ou outro apoio, enviou ao domicilio das inglesas seu irmão, o Cardeal Sant’Onofrio, e também sua cunhada, Dona Constanza Berberini, com quem Mary tinha travado amizade. A febre cessou, mas os cálculos renais impediam a doente de comer e dormir. Ela obteve permissão para ir a uma cura de águas em Spa e nesta ocasião o Papa Urbano VIII chamou-a de “grande e santa serva de Deus”.
     Em 10 de setembro de 1637 Mary deixou a Cidade Eterna e passando por Siena, Milão e Lion, se dirigiu a Paris e dali a Liege e Spa.
     Atendendo o desejo expresso do Papa Urbano, Mary foi a Roma, e lá, como ela reuniu em torno dela os membros mais jovens de sua família religiosa, sob a supervisão e proteção da Santa Sé, o novo instituto tomou forma.
     Em 20 de maio de 1639, com cartas de apresentação do papa Urbano à rainha Henrieta Maria, Mary retornou a Inglaterra e estabeleceu-se em Londres. Há 33 anos ela saíra de sua pátria pela primeira vez, e há vinte não a visitava. Por incrível que pareça, ela pretendia abrir um colégio na agitada cidade... Escreveu a Roma sobre este plano, observando que isto não poderia se realizar sem um milagre. E o milagre não aconteceu...
     Em setembro de 1642, diante das convulsões da guerra civil em Londres, foi para Heworth, perto de York; em Yorkshire também chegaram as tropas dos parlamentaristas. Na cidade assediada, as pessoas buscavam consolo e ajuda junto a esta mulher de quem emanava sossego e bondade.
     Isto não era novo ao longo da vida de Mary Ward: ajudar as pessoas foi a finalidade de toda sua vida. Devia ter a amabilidade extraordinária que ganhava os corações. Certa vez que Mary esteve em Londres, suas palavras zelosas e persuasivas levaram sua tia, Srta. Gray, a falar com um padre da Sociedade de Jesus com vistas a aceitar a fé verdadeira. Mary conseguiu trazê-lo de volta a fé em seu leito de morte e após obstinada heresia; o sacerdote recebeu o Sagrado Viático com grande devoção,
     Mary Ward faleceu no dia 30 de janeiro de 1645 em Heworth. A pedra sobre seu túmulo no cemitério da vila de Osbaldwick é preservada até a atualidade.
     Sua obra, entretanto, não foi destruída. Ela reviveu gradualmente e se desenvolveu seguindo as linhas gerais do primeiro projeto.    
     Atualmente existem 85 casas na Baviera, com 1153 membros, 90 postulantes, 1225 pensionistas, 11.447 alunos e 1472 órfãos. Quatro casas na Índia, uma em Roma e duas na Inglaterra estão sujeitas a Nymphenburg. A casa em Mainz escapou da secularização, sendo poupada por Napoleão na condição de que toda conexão com a Baviera deveria cessar. É agora a Casa-mãe de um ramo que tem oito casas filiais.
     Há 19 casas do instituto na Irlanda, 8 casas no Canadá, 3 nos Estados Unidos, 7 na Inglaterra, cerca de 180 casas em total. Devido à variedade de nomes e à independência dos ramos e casas, a unidade essencial do instituto não é prontamente reconhecida. As "Virgens Inglesas", ou "senhoras inglesas", são o título sob o qual os membros são conhecidos na Alemanha e na Itália, enquanto na Irlanda o nome mais conhecido é "Freiras de Loretto", do nome do famoso santuário italiano dado à Casa-mãe em Rathfarnham. Cada ramo tem seu próprio noviciado, e vários têm suas constituições especiais aprovadas pela Santa Sé.
     O "Instituto de Maria" é o título oficial de todos; todos seguem a regra aprovada por Clemente XI em 1703, e participam da aprovação do Instituto dado por Pio IX, em 1877.
     As irmãs dedicam-se principalmente à educação das meninas em internatos e academias, mas também atuam nas escolas primárias e secundárias, na formação de professores, na instrução nos ofícios e na economia doméstica, e no cuidado dos órfãos. Vários membros do instituto também se tornaram conhecidos como escritores.
     Mary Ward foi declarada Venerável por Bento XVI em 19 de dezembro de 2009. O Papa Pio XII, referindo-se a Mary Ward, se expressou dizendo: "Convém lembrarmos de uma grande figura da história católica: Mary Ward, essa mulher incomparável que nas horas mais negras e sangrentas, a Inglaterra deu à Igreja".

Fonte: www.nobility.org; http://irlandesasloreto.org/es/content/vida-de-mary-ward
As primeiras religiosas do Instituto



sábado, 21 de janeiro de 2017

Beata Cristiana de Assis - 21 de janeiro

O Martirológio Franciscano comemora neste dia duas Beatas homônimas


   No martirológio franciscano Cristiana é confundida com a figura de outra damianita (isto é, as primeiras Clarissas, que viviam no Mosteiro de São Damião), Cristiana filha de Cristiano de Paride sua contemporânea, mas talvez mais jovem. O texto do processo de canonização de Santa Clara permite distingui-las. O Frei Mariano de Florença a chamou de Cristina.
    Ela pertencia à família de um dos associados da catedral, Suppo de Bernardo, que em 1165 fez um testemunho junto com Offreduccio, avô de Santa Clara, com quem Cristiana viveu em Assis na mesma casa (e isso nos levaria a considerá-la como parente da Santa). Ele pode narrar ter visto e ouvido algumas particularidades em torno da porta de fuga da casa de seu pai (Processo, XIII, 1, p. 482), bem como em torno da venda de ativos que a Santa não queria dar aos parentes para não decepcionar os pobres (ibid., 11, p. 483).
     Cristiana foi talvez a fundadora do mosteiro de Damianitas em Carpello, aquele de Foligno (1217). Ela ingressou no convento de São Damião em 1220 e esteve presente em várias curas milagrosas feitas pela Santa abadessa. Seu nome aparece no documento de 1238.
     Em 1241, por ordem de Santa Clara convocou as irmãs para a oração enquanto Assis era cercado por Vital (Processo, p. 483). Tendo dado seu depoimento em 24 de novembro de 1253, devemos deduzir que a morte de Cristiana tenha ocorrido posteriormente a esta data.
     O Martirológio Franciscano a comemora no dia 21 de janeiro.

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    A outra Cristiana não deve ser confundida com a homônima filha de Bernardo, sua contemporânea. Esta Cristiana descendia de uma família de cavaleiros que viviam em São Tiago de Murorotto; seu pai, Cristiana Paride, foi cônsul de Assis em 1210.
      A Benta entrou no mosteiro de São Damião em 1246-1247 e nos tempos de sua vida nele viu com os próprios olhos a Santa Madre Clara incólume, apesar de uma pesada porta ter caído sobre ela (Processo, V, 5, p. 464). Sofrendo de surdez em um ouvido, ela foi curada quando a santa abadessa fez um Sinal da Cruz sobre o local doente (ibid., P. 463), no verão de 1252.
      Na deposição de 24 de novembro de 1253 relativa a Clara, afirmou acreditar "que tudo o que se poderia dizer sobre a santidade de uma mulher, depois da Virgem Maria, realmente se pode dizer sobre ela".
      No martirológio franciscano ela é recordada no dia 21 de janeiro, confundindo-a com a homônima acima lembrada.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Há 175 anos, Aparição de Nossa Senhora del Miracolo – 20 de janeiro de 1842


Nossa Senhora do Milagre

Um dos fatos marcantes da história religiosa do século XIX foi a aparição de Nossa Senhora ao judeu Afonso Ratisbonne e sua retumbante conversão ao Catolicismo

Muito distante da fé católica vivia o jovem banqueiro Afonso Ratisbonne, natural de Estrasburgo, nascido em 1814, de riquíssima família israelita. No dia 20 de janeiro de 1842, em viagem turística a Roma, por curiosidade meramente artística ele acedeu entrar na Igreja de Sant Andrea delle Fratte, acompanhado de um amigo, o Barão de Bussières. Enquanto este foi à sacristia, a fim de encomendar uma missa, o jovem judeu apreciava as obras de arte daquele templo. Quando se encontrava diante do altar consagrado a Nossa Senhora das Graças da Medalha Milagrosa (hoje conhecido como altar da Madonna del Miracolo — Nossa Senhora do Milagre), Ela apareceu-lhe e o converteu instantaneamente de inimigo da Igreja católica em seu fervoroso apóstolo.
Na data comemorativa da impressionante aparição e conversão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira recomendava que se rezasse especialmente à Madonna del Miracolo. Assim, numa ocasião ele dirigiu a Ela as seguintes palavras:



Altar de Nossa Senhora do Milagre na Igreja de Sant'Andrea delle Fratre, Roma


Ó Imaculada Mãe de Deus, Madonna del Miracolo, que quisestes conquistar com um singular prodígio de vossa misericórdia o israelita Afonso Ratisbonne, acolhei as súplicas que vos apresentamos com confiança, como um dia acolhestes as súplicas daqueles que a Vós recorreram pedindo a conversão do filho judeu. Obtende-nos também uma sincera e total conversão à graça e todos os bens da alma e do corpo.
Vossa clemência triunfou sobre Ratisbonne, persuadindo-o a receber o batismo e a empenhar-se com vontade séria na observância dos Mandamentos. Por esta conquista do vosso amor, obtende-nos a perseverança no cumprimento das promessas do batismo. Fazei com que nenhum obstáculo se interponha à nossa observância dos preceitos de Deus e da Igreja.
Vossas mãos resplandecentes são símbolo das inumeráveis graças que com maternal bondade dispensais profusamente sobre a Terra. Fazei resplandecer também sobre nós um raio da vossa misericórdia.

Busto de Alphonse Ratisbonne, já sacerdote (fundou um instituto)


Assista o vídeo: https://youtu.be/TI8GhhOKoPY


terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Beata Beatriz II d'Este, Viúva e Monja - 18 de janeiro


 A Beata Beatriz venerada por suas coirmãs

Martirológio Romano: Em Ferrara, Beata Beatriz d’Este, monja, que diante da morte do marido, tendo renunciado ao reino deste mundo, se consagrou a Deus em um mosteiro por ela mesma fundado sob a regra de São Bento

     As informações biográficas desta Beata, provenientes do testamento do pai, constam da pequena biografia de um monge de Pádua, quase seu contemporâneo, que dá uma noção da crônica de Ferrara e da biografia de uma monja daquela cidade (cf. Mosteiro de Santo Antônio Abade, Catasto dei privilegi del sec. XVI ed altra copia del sec. XV in Bibl. Ariostea, fondo Antonelli, n. 503.  Ver também Analecta Juris Pantificii, 1880, p. 668.)
     Beatriz pertencia a uma família abastada de Ferrara, onde nasceu por volta de 1230; era filha de Azzo VII marquês d’Este e senhor de Ferrara e de Joana de Púglia. Sua mãe faleceu quando ela tinha apenas 7 anos e seu pai tornou a se casar; Mabilia, da casa Pallavicino, foi uma verdadeira mãe para a pequena.
     Educada por sua tia Beatriz I d’Este (1192-1226, também canonizada e celebrada no dia 10 de maio), monja de Gémola, perto de Pádua, ela recebeu uma excelente educação, para a qual contribuiu igualmente uma outra religiosa, sua avó Leonor de Saboia
     Em 1249, por obrigações familiares, Beatriz deveria contrair núpcias com Galéas, filho de Manfredo, alcaide da cidade de Vicência. Quando se dirigia a Milão para se casar, recebeu a triste notícia da morte de Galéas provocada por graves feridas recebidas em batalha contra Frederico II no dia anterior. 
     Voltando para Ferrara, e contra a vontade de seus pais, retirou-se definitivamente optando pela vida religiosa no convento de São Lázaro, situado a oeste da cidade, juntamente com sete donzelas da corte que quiseram acompanhá-la.
    Tendo crescido o número de religiosas, Beatriz obteve do Papa Inocêncio IV a sua transferência para o mosteiro de Santo Estêvão da Rota (1257), junto do qual acabou por ser construída, em 1267, uma igreja dedicada a Santo Antônio, Abade.
     Beatriz fez os seus votos perante o bispo João, abraçando para sempre a regra de São Bento em 25 de março de 1260.
     Ali viveu santamente até ao dia 18 de janeiro de 1266, data em que entregou ao Esposo celeste a sua alma santa. Beatriz faleceu com 36 anos de idade; seu corpo foi muito bem lavado por suas coirmãs e a água foi recolhida e dada em pequenos frascos para os fiéis, porque eles queriam manter algo da monja antes dela ser enterrada.
     Esta água operou muitos milagres e curas; tendo se espalhado a notícia, a cada ano, por ocasião da data de seu falecimento, as monjas lavavam o corpo incorrupto da Beata, o que aconteceu até 1512, quando os restos se desintegraram, conforme testemunhado pela abadessa Arcângela Bevilacqua, permanecendo apenas os ossos. Estes foram, posteriormente, recolhidos em uma urna dentro de uma arca ricamente decorada com ouro e pedras preciosas.
     A mesma arca começou a produzir espontaneamente uma espécie de condensação uma vez por ano, durante cinco meses. O fenômeno nunca foi interrompido, ocorrendo até hoje entre outubro-novembro até o mês de março de cada ano. São recolhidos vários litros de líquido milagroso que são doados aos fiéis, e isto ocorre durante as temperaturas frias de inverno nos meses de coleta e não congelam. Os seus ossos exalam um perfume delicado.
     A água, conhecida como “licor” ou “lágrimas da Beata”, foi analisada em 1935 pelo Prof. José Bragagnolo e novamente analisada em 1961 no Instituto de Química da Universidade de Ferrara: após 26 anos, os resultados foram os mesmos de 1935. O mosteiro de Santo Antônio, em Polesine, retém documentos coletados no Domesday Book em 4 envelope sobre as graças e milagres obtidos por intercessão da Beata, com ou sem o uso do "licor".
     O mosteiro fundado pela Beata se mantém até os dias de hoje. As monjas são de clausura, mas têm uma dispensa especial do bispo para abrir algumas áreas para visitas programadas muito rígidas, algo muito proveitoso do ponto de vista espiritual.
   Numerosos são as graças que são obtidas pelos peregrinos. Graças obtidas em ocasiões de calamidade públicas tornam o local objeto de grande veneração
     O Papa Clemente XIV aprovou o culto da Beata em 23 de julho de 1774 e o Papa Pio VI concedeu a Missa e o Ofício em 1775, fixando a celebração da sua festa a 19 de janeiro, porque nesse tempo o dia 18 de janeiro era reservado à festa – agora suprimida – da Cátedra de São Pedro em Roma. Atualmente ela é comemorada no dia de seu falecimento, 18 de janeiro.
    
Fonte: várias fontes italianas; www.santiebeati/it

Etimologia: Beatriz, do latim Beatrix, do italiano Beatrice: “a que faz feliz alguém”; feminino de beatus, “feliz, beato, ditoso, bem-aventurado”.
Mosteiro de Santo Antonio

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Santa Joana de Bagno di Romagna, Monja camaldulense – 16 de janeiro

Santa Inês de Bagno di Romagna
Martirológio Romano: Em Bagno di Romagna, na atual Emília-Romanha, região da Itália, Santa Joana, virgem, que, recebida na Ordem Camaldulense, resplandeceu singularmente pela sua obediência e humildade.

     Sobre Santa Joana de Bagno di Romagna, comemorada hoje, são muito poucas as informações históricas disponíveis.
     Joana viveu no século XI e foi consagrada a Deus desde menina, caminhou a passos largos no caminho da santidade e manteve intacto o lírio da virgindade. Foi companheira de Santa Inês de Bagno di Romagna (comemorada no dia 29 de janeiro) no convento Camaldulense de Santa Lúcia, em Bagno di Romagna, na província de Forli.
     Quando a santa monja Joana morreu, em 1105, os sinos começaram a soar espontaneamente.
     Venerada em toda a diocese de Borgo San Sepulcro e patrona de sua cidade, o culto foi oficialmente confirmado pela Santa Sé em 15 de abril de 1823, juntamente com o de Santa Inês de Bagno di Romagna.
     O Martirológio Romano a comemora no dia 16 de janeiro, referindo-se a ela como "um esplêndido exemplo de obediência e humildade", enquanto o Menológio Camaldulense optou por uma data diferente, 13 de fevereiro.

     As duas Santas camaldulenses também são retratadas em um afresco na igreja da Camáldula de Bagno de Romagna.

Igreja da Camáldula de Bagno di Romagna

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Santa Ivete de Huy, Viúva, Reclusa - 13 de janeiro

   
     Os séculos XII e XIII foram marcados em Liége por uma rica energia espiritual, pelo envolvimento das religiosas que se dedicavam a Deus em reclusões ou em beguinatos. Entre elas, Ivete (ou Juette) de Huy, Juliana de Liège ou Eva de São Martinho.
     A vida de Santa Ivete chegou até nós através de seu confessor e biógrafo, um cônego chamado Hugo de Floreffe (Floreffe era uma abadia norbertina, na Diocese de Namur), que escreveu a vida de Santa Ivete por volta de 1230 em latim medieval. Ele também escreveu a vida de Santa Ida de Nivelles e de Santa Ida de Leuwe, religiosa da Ordem de Cister no Brabante.
     Ivete nasceu em 1158, em Huy, Bélgica, em uma família de classe média alta, seu pai era administrador dos bens do bispo de Liège, na região de Huy.
     A partir da idade de 12 anos Ivete manifestou o desejo de consagrar-se a Deus. Apesar disso e, de acordo com um costume muito difundido na época, com a idade de 13, incapaz de opor-se, foi dada em casamento a Henry Stenay, filho de um grande cidadão de Huy. Nada preparada para o casamento, Ivete abominava a vida conjugal e odiava o marido. Levou tempo para superar essa crise e voltar a sentimentos mais equilibrados. Ela aceitou a legitimidade das demandas de seu marido, e ainda conseguiu amá-lo. Ivete teve três filhos, dos quais um morreu pouco tempo depois de batizado.
     Após cinco anos, seu marido morreu deixando-a, aos 18 anos, viúva com dois filhos. Era ainda jovem e bonita e seu pai tenta casá-la novamente. Mas desta vez Ivete, adulta, estava bem determinada a seguir o caminho da consagração a Deus. Ela não cedeu. Seu pai, um parente do bispo de Liège, Raoul Zähringen, leva-lhe a viúva teimosa. Ivete, intimidada perante o tribunal do bispo, fica silenciosa. Raoul, em seguida, ouviu-a em uma audiência particular. Ivete pede-lhe apoio a sua causa e seu desejo de ser totalmente entregue a Deus; o bispo lhe dá razão. Seu pai teve que ceder.
     Em seguida, dedicou-se à educação de seu filho e da prática da caridade. Sua generosidade é bem conhecida: pobres, peregrinos e viajantes eram abrigados por ela. Ela anunciou que em breve deixaria o mundo. Ela faz arranjos para garantir o futuro de seus filhos e se retirou para um leprosário malconservado. Na idade de 24, continuando seu caminho espiritual, Ivete se coloca ao serviço dos leprosos em uma colônia de leprosos em Statte, nas colinas da cidade de Huy.
    Durante dez anos ela se dedicou de corpo e alma ao cuidado destes excluídos sem descurar qualquer esforço. Aspirando a ser unida a Cristo, negligencia todas as precauções; ela estava mesmo disposta a ser atingida pela lepra, para uma melhor identificação com Cristo.
     Uma vida tão prodigiosa causa admiração. As pessoas vêm pedir-lhe conselhos, pedindo sua intercessão. Um grupo de fieis e discípulos se reúne em torno dela.
     Por volta de 1191, ela ainda aumentaria mais a penitência: aos 34 anos, Ivete foi fechada em uma cela, em Statte, da qual ela não sairia jamais. Do alto da colina, ela era como um anjo da guarda de Huy. Na véspera da sua entrada no isolamento, ela recebeu uma grande graça: a conversão de seu pai, que até então fizera de tudo para desviá-la de sua extraordinária vocação. Ele foi tocado pela graça e se converteu. Como ele era viúvo, ingressou na abadia cisterciense de Villers-en-Brabant. Ele é recordado como Beato Otto de Villers.
     Os discípulos aumentam e as esmolas também. Ivete não se esqueceu de seus filhos. O primeiro entrou na Abadia de Orval, da qual seria abade. O segundo levava uma vida desregrada. Muitas vezes Ivete o chama para ralhar e fazê-lo voltar aos trilhos. Ele promete se emendar, promessa não cumprida. Ivete finalmente ordenou-lhe deixar a região, porque era motivo de grande escândalo. Ele se converteu mais tarde e também se tornou monge cisterciense na Abadia Trois-Fontaines.
     De acordo com seu biógrafo, Ivete recebeu dons místicos, especialmente o de ler as consciências. O número de seus seguidores foi aumentando, mas também fez com que a suas previsões causassem descontentamentos, porque ela dizia em voz alta o que queriam esconder.

     Com a esmola recebida, a reclusa de Huy construiu um hospital para leprosos com uma grande igreja. Ela dirigia a construção a partir de sua cela. Várias jovens se agruparam em torno dela e se tornaram suas discípulas.
     Ivete morreu em sua cela no dia 13 de janeiro de 1228 aos 70 anos de idade. Imediatamente grande veneração e um culto a ela se desenvolveu. Devido à grande veneração por ela, muitos fiéis exigiram o reconhecimento da santidade do “anjo da guarda de Huy”. Embora uma aprovação formal nunca tenha existido, ela é venerada ainda hoje como santa.
     Ela é emblemática de um movimento místico feminino que floresceu na Idade Média, que já contava com Maria de Oignies, Hildegarda de Bingen, ou Ida de Nivelles.

Fonte: https://fr.wikipedia.org/wiki/Ivette_de_Huy

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      A lepra foi particularmente temida. Surtos da doença tinham aparecido na Gália, no século IV, transmitida por contatos com o Oriente. Os pacientes viviam separados e inspiravam terror. Eles tinham que sinalar sua passagem por meio de um guizo para que as pessoas se afastassem deles. Eles viviam em leprosários, criados a partir do século VIII, quando a doença se tornou endêmica. Localizados fora das cidades, cabanas ou barracas eram colocadas perto de um rio, porque os banhos eram considerados saudáveis, serviam de habitação para os leprosos que trabalhavam como fazedores de corda, escorchavam animais ou eram coveiros.
    Somente indivíduos com forte inspiração religiosa encontravam nela recursos para tratar daquelas pessoas consideradas afetadas por castigo divino. Assim São Martinho não hesitou em tocá-los, bem como reis como Roberto, o Piedoso e São Luís IX.
     A doença afetou todos os estratos sociais; o leproso era considerado o infeliz por excelência. Por vezes, outras doenças da pele eram assimiladas à lepra.
     São Julião o Hospitaleiro criando leprosários era o exemplo do santo que vinha em auxílio de seu próximo do qual todo mundo se afasta. Cavaleiros afetados pela doença, não hesitam em entrar nas Ordens Hospitaleiras para cuidar dos outros leprosos. Muitas vezes os leprosários (ou lazaretos) eram administrados pelos próprios leprosos. Chamados Irmãos Donatos, porque dados a Deus, eles deviam em princípio viver sujeitos à regra da Ordem. Se ele era casado, o Irmão tinha que deixar o leprosário, e perdia os lucros decorrentes da gestão da propriedade comum.
     A endemia foi particularmente forte no Ocidente nos séculos XI e XII (regresso das Cruzadas), por vezes atingindo dois por mil habitantes. Foi neste momento que a exclusão dos leprosos foi a mais viva e que a hostilidade popular foi mais violenta. A grande peste no século XIII diminuiu a lembrança, no século XIV a lepra diminuiu. Os últimos leprosários desapareceram no final do século XV e na virada do século XVI.

     Santa Alpais, contemporânea de Santa Ivete, cuja vida também foi ligada à lepra pode ser vista em: http://ut-pupillam-oculi.over-blog.com/article-13537351.html

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Beata Alix (Alice) Le Clercq, Cofundadora - 9 de janeiro

     
     Uma das grandes obras da Contrarreforma foi ter começado a preocupar-se com a educação das meninas. Em 1535, Santa Ângela de Merici fundou a Congregação das Ursulinas com este fim. Santa Joana de Lestonnac fundou, em 1606, a Congregação das Religiosas de Nossa Senhora. Por sua vez, São Pedro Fourier fundou as Canonisas Regulares de Santo Agostinho da Congregação de Nossa Senhora, obra na qual Alix Le Clercq cooperou como cofundadora.
     Alix nasceu em Remiremont, ducado de Lorena, em 1576. Sua família ocupava uma posição de destaque, mas pouco se sabe da vida de Alix até os dezessete anos. Era então uma jovem alta e bela, loura, de constituição delicada, atraente e inteligente. Outro relato, escrito por ela mesma, nos informa que se distinguia na música e na dança, que era muito popular e que tinha muitos admiradores. Alix deixa entender que se envaidecia com isto, o que é provável. Entretanto, lembremo-nos que os santos tendem a exagerar seus defeitos.  Por outro lado, Alix demonstra que não deixava de ter seriedade: “Em meio a tudo isto, meu coração estava triste”. Pouco a pouco a frivolidade de sua vida se lhe tornou insuportável.
     Aos dezenove anos um primeiro sonho veio mudar sua vida. Ele se viu em uma igreja, próximo do altar, a seu lado se encontrava Nossa Senhora vestida com um hábito religioso desconhecido, que lhe fala: "Vem, minha filha, que eu mesma vou te dar as boas-vindas".
     Pouco tempo depois, a família Le Clercq foi morar em Hymont. Ali a jovem encontrou São Pedro Fourier, que era vigário de uma paroquia de Mattaincourt, nas redondezas. Um dia em que assistia à Missa nessa paroquia, Alix ouviu um ruído de tambor e viu o demônio que fazia os jovens dançar “ébrios de alegria". Nesse instante se deu a conversão de Alix, que nos disse: "Ali mesmo resolvi não me misturar com semelhante companhia".
     Alix trocou seus vestidos finos pelas roupas das camponesas, e pouco saía de sua casa. Sob a prudente direção de São Pedro Fourier, procurou descobrir qual a vontade de Deus a seu respeito, o que lhe causou grandes sofrimentos espirituais. Tanto seu pai como São Pedro Fourier aconselharam que ela entrasse em um convento. Ao que ela não concordou, pois em um sonho lhe fora revelado que não existia nenhuma forma de vida religiosa adaptável à sua vocação.
     Alix confiou a São Pedro Fourier que estava obcecada pela ideia de fundar uma congregação ativa. Este se mostrou cético, mas a aconselhou procurar outras jovens que compartilhassem de suas ideias, coisa muito difícil em um povoado afastado. Alix, porém conseguiu encontrar companheiras.
     Na Missa de Natal de 1597, Alix Le Clercq, Ganthe André, Isabel e Joana de Louvroir se consagraram publicamente a Deus. Quatro semanas depois, São Pedro Fourier convenceu-se de que elas eram chamadas a fundar uma comunidade sob sua direção. Alix recebeu o nome de Irmã Maria Teresa de Jesus Le Clercq.
     Uma solução inesperada: a quatro quilômetros de Mattaincourt havia uma abadia de canonisas seculares. Era uma comunidade de ricas e aristocráticas damas que levavam uma vida conventual. Uma dessas senhoras, Judith d'Apremont, decidiu proteger Alix e suas três companheiras dando-lhes para morar uma casinha em suas propriedades. As jovens se instalaram ali na véspera de Corpus Christi de 1598. Ao terminar um retiro, declararam unanimemente a São Pedro Fourier que se sentiam chamadas a fundar uma nova congregação, já que esta era a vontade de Deus para elas. A finalidade do novo instituto era "ensinar as meninas a ler, a escrever e a costurar, mas sobretudo a amar e servir a Deus". A esta santa ocupação elas deviam se dedicar, sem distinguir entre pobres e ricos, e sem cobrar nem um centavo, "porque isto agrada mais a Deus".
     Em 1601, São Pedro Fourier e a Beata Alix fundaram uma segunda casa em Mihiel, seguida pelas de Nancy, Pont-à-Mousson, Saint-Nicolas du Port, Verdún e Chalons. Esta última, estabelecida em 1613, foi a primeira fundação fora da Lorena.
     Alix e uma das companheiras foram enviadas por São Pedro a um convento das Ursulinas de Paris para que se documentassem sobre a vida monástica e os métodos de ensino.
     Em 1616, duas bulas da Santa Sé concederam afinal a desejada aprovação da congregação. Com base nisto, o Bispo de Toul aprovou as Constituições. Pela primeira vez treze religiosas vestiram o hábito que a Virgem revelara na visão a Alix, e iniciaram o ano de noviciado.
     Como as bulas papais somente mencionassem o convento de Nancy, a Beata Alix teve que renunciar ao cargo de superiora da Congregação a favor da Madre Ganthe André, “sem a qual, explica São Pedro Fourier, nossa congregação não teria podido ser fundada”, apesar de Madre André e de Alix não estarem de acordo sobre a organização.
     Além desta provação, a beata atravessava um período de crise espiritual conhecido por “noite escura da alma”. Atualmente lhe é reconhecido o título de cofundadora das Canonisas de Nossa Senhora, mas isto não acontecia durante sua vida e São Pedro Fourier era o primeiro a negar a ela este título, “para mantê-la em seu lugar”.
     Em 1621, a Beata obteve permissão para renunciar ao cargo de superiora local de Nancy, pois estava doente já há algum tempo. Os médicos a declaram incurável, diagnóstico que desconsolou toda Nancy, desde o duque e a duquesa da Lorena até as alunas e os mendigos.
     São Pedro Fourier foi para Nancy e a ouviu em confissão e a preparou para a morte. Alix se despediu solenemente da comunidade no dia da Epifania, exortando suas religiosas ao amor e a união. O desfecho chegou no dia 9 de janeiro de 1622, depois de uma longa agonia. A Beata não havia feito 46 anos de idade.
     Logo todos a aclamaram como santa e imediatamente se começou a recolher testemunhos para introdução de sua causa, mas a guerra impediu que o processo fosse adiante e ela somente foi beatificada em 1947.
     Em 1666, o convento de Nancy publicou uma vida da Beata Alix Le Clercq, que é na realidade uma coleção de documentos valiosos sobre a beata. O bispo de Saint-Dié introduziu, em 1885, a causa de beatificação, baseando-se em um exemplar dessa biografia que havia caído em mãos do Conde Gandélet. A primeira biografia propriamente dita foi publicada em Nancy em 1773; existe o manuscrito de outra, escrita em 1766; em 1858 veio à luz outra biografia, e a partir de então se multiplicaram os livros sobre a Beata.
     Há ainda a mencionar as vidas de São Pedro Fourier, escritas por Bedel (1645), Dom Vuillemin (1897), e o Pe. Rogie. O autor do prefácio da biografia inglesa da Beata Alix, fala dos excelentes métodos de educação empregados pelas canonisas. São Pedro Fourier ensinava pedagogia a suas religiosas.

     Madre Maria Teresa de Jesus Le Clercq foi beatificada em 1947 por Pio XII.