segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Venerável Mary Ward, fundadora do Instituto de Maria – 23 de janeiro

    
    Mary Ward nasceu em 23 de janeiro de 1585; faleceu em 30 de janeiro de 1645. Era filha mais velha de Marmaduke Ward e Úrsula Wright, e ligado por sangue com a maioria das grandes famílias católicas de Yorkshire.
     A família de Mary pertencia à nobreza rural de Yorkshire que havia permanecido fiel a fé católica. A filha mais velha dos Ward, ficou mais ou menos marcada pela execução dos membros da realeza: em 1587 (quando Mary tinha dois anos) Maria Stuart foi executada; quatro anos depois, em 1649, o rei Carlos I foi decapitado. Apesar de tudo isto, a disposição interior de Mary quase nunca chegou a atingir uma nota trágica.
     Durante a infância e juventude, com seu espirito vivo, presenciou a perseguição aos católicos de sua pátria por parte da igreja anglicana. Assim, pela fé nenhum sacrifício lhe parecia excessivo, viu de perto os intrépidos missionários, provavelmente também foi testemunha de registros familiares e viu como tinham que esconder sacerdotes católicos e objetos sagrados. Ouvia relatos sobre os mártires que davam sua vida. Nesse tempo tão duro foi crescendo e a luta enfrentada pela família, pela pátria e pela fé acompanharam-na ao longo de sua vida.
     Não foi uma menina mimada. Durante um incêndio na casa paterna, Mary, junto com suas irmãs implorou o auxílio de Nossa Senhora rezando o Rosário. O pai salvou suas três filhas e a casa ficou reduzida a cinzas!
     Em 1606, aos 21 anos, Mary deixou sua família, com o consentimento de seu confessor e foi para Saint-Omer (uma cidade pequena dos Países Baixos espanhóis, a uns 30 k de distância de Calais, França) acompanhada da Sra. Bentley, aos cuidados de quem tinha sido encomendada. Entrou num convento de Clarissas em Saint-Omer como irmã leiga. No ano seguinte fundou uma casa para inglesas em Gravelines, mas não se sentindo chamada à vida contemplativa, resolveu dedicar-se ao trabalho ativo.
     Com vinte e quatro anos de idade viu-se cercada por um grupo de companheiras dedicadas, determinadas a trabalhar sob sua orientação. Em Londres, a vida edificante de Mary e suas palavras persuasivas ganharam várias jovens damas da nobreza para o serviço do Esposo Divino. Inspiradas por seu exemplo e para fugir às ciladas do mundo, partiram com ela para Saint-Omer, para servir Deus no estado religioso sob a direção de Mary.
      Em 1609 estabeleceram-se como uma comunidade religiosa em St. Omer, e abriram escolas para ricos e pobres. O empreendimento foi um sucesso, mas foi uma novidade, e atraiu censura e oposição, bem como elogios.
     Sua ideia era permitir que as mulheres fizessem pela Igreja, em seu próprio campo, o que os homens faziam por ela na Companhia de Jesus. A ideia foi realizada uma e outra vez nos tempos modernos, mas no século XVII encontrou pouco incentivo. As freiras não clausuradas eram uma inovação repugnante aos princípios e tradições de longa data então prevalentes. O trabalho das mulheres religiosas era então limitado à oração e aos bons serviços para o próximo que podiam ser feitos a partir das paredes de um convento. Havia outras diferenças surpreendentes entre o novo instituto e as existentes congregações femininas: a ausência de reclusão, a não obrigação do coro, do hábito religioso e da jurisdição do bispo diocesano.
Mary e companheiras partem para St Omer
     Além disso, seu projeto foi apresentado em uma época em que havia muita divisão entre os católicos ingleses, e o fato de ter-se baseado tanto na Sociedade de Jesus (também objeto de suspeita e hostilidade em muitos lugares) aumentou a desconfiança que ele inspirou. Seus oponentes pediram um pronunciamento da autoridade quanto ao status e aos méritos de seu trabalho. Já em 1615, Suarez e Lessius tinham sido solicitados a opinar sobre o novo instituto. Ambos elogiaram seu modo de vida. Lessius sustentava que a aprovação episcopal bastaria para torná-lo um corpo religioso; Suarez sustentou que seu objetivo, organização e métodos, sem precedentes no caso das mulheres, exigiam a sanção da Santa Sé.
     São Pio V havia declarado que os votos solenes e a rigorosa clausura papal eram essenciais para todas as comunidades religiosas femininas. Esta lei dificultava a propagação de seu instituto em Flandres, na Baviera, na Áustria e na Itália, o que a fez recorrer à aprovação formal da Santa Sé. A Arquiduquesa Isabel, o eleitor Maximiliano I e o imperador Fernando II acolheram a congregação em seus domínios e, juntamente com homens como o cardeal Federico Borromeo, o frei Domingos de Jesus e o padre Mutio Vitelleschi, general da Companhia de Jesus, que tinham singular veneração pela fundadora.
     Em 1626, quando Mary estava indo para Munique pela primeira vez, não distante de Isarberg, ela disse para suas companheiras que Deus havia revelado para ela em oração que Sua Alteza o Eleitor proveria uma boa casa para elas e meios de subsistência. Isto efetivamente ocorreu logo depois da chegada delas em Munique.
     No Natal de 1626, Mary assistiu a Santa Missa na Igreja dos Capuchinhos de Munique e rezou com fervor ao Salvador recém-nascido pela conversão do Rei da Inglaterra. Deus revelou-lhe o infinito amor que Ele tinha pelo Rei e quanto Ele desejava que ele gozasse com Ele a eterna glória, mas era preciso a cooperação do Rei.
     Paulo V, Gregório XV e Urbano VIII mostraram sua grande bondade e falaram em louvor ao seu trabalho, e em 1629 ela foi autorizada a defender pessoalmente sua própria causa diante da congregação de cardeais indicada por Urbano VIII para examiná-la. As "Jesuitesas", como sua congregação foi designada por seus oponentes, foram suprimidas em 1630.
     Em 7 de fevereiro de 1631, Golla, deão de Frauenkirche de Munique, conduziu a fundadora a uma cela de prisioneira no convento das Clarissas de Anger. Sem rebelar-se, mas profundamente afetada, Mary se deixou conduzir. Era suspeita de heresia, de cisma, de rebelião, o maior sofrimento possível para esta filha fiel da Igreja. Durante as nove semanas de prisão continuou sendo uma mulher forte, sem ressentimentos. O Deão Golla permitiu que suas companheiras lhe levassem comida duas vezes ao dia. Das prisões inglesas estas mulheres conheciam o procedimento de escrever com sumo de limão, que rapidamente era absorvido pelo papel e se tornavam legíveis diante do fogo. Assim Mary Ward, a quem tinha sido proibida qualquer correspondência, pode se comunicar com suas companheiras.
     As cartas escritas no convento de Anger são hoje um tesouro precioso para se conhecer Mary nestas difíceis semanas. Ela sentia fortes dores causadas por pedras nos rins. Apesar disto, escrevia: “Tenho ainda muita saúde e força para meu Mestre e Senhor e em seu serviço... Quem sabe o que Deus pretende com todos esses acontecimentos? Realmente não o sabem eles [os que haviam provocado] nem eu o sei; também não quero saber de nada e não ter outra vontade além da Sua... Sejam alegres e não duvidem de nosso Mestre”.
     Em fins de março sua vida estava ameaçada. Para poder receber os últimos Sacramentos tinha que assinar um documento que lhe pareceu uma retratação; assim, redigiu um documento próprio, afirmando mais uma vez sua fidelidade ao Papa e a Igreja. Também defendia sua inocência, sem manifestar a mínima queixa. Recebeu os Sacramentos e as companheiras foram despedir-se dela no convento de Anger. Em 14 de abril, após um restabelecimento que assombrou os médicos, ela voltou para Paradeiserhaus.
     Em dezembro de 1636 sua saúde piorou. Em 30 de julho de 1637 lhe administraram os últimos Sacramentos. O papa, que nos últimos anos havia proporcionado um ou outro apoio, enviou ao domicilio das inglesas seu irmão, o Cardeal Sant’Onofrio, e também sua cunhada, Dona Constanza Berberini, com quem Mary tinha travado amizade. A febre cessou, mas os cálculos renais impediam a doente de comer e dormir. Ela obteve permissão para ir a uma cura de águas em Spa e nesta ocasião o Papa Urbano VIII chamou-a de “grande e santa serva de Deus”.
     Em 10 de setembro de 1637 Mary deixou a Cidade Eterna e passando por Siena, Milão e Lion, se dirigiu a Paris e dali a Liege e Spa.
     Atendendo o desejo expresso do Papa Urbano, Mary foi a Roma, e lá, como ela reuniu em torno dela os membros mais jovens de sua família religiosa, sob a supervisão e proteção da Santa Sé, o novo instituto tomou forma.
     Em 20 de maio de 1639, com cartas de apresentação do papa Urbano à rainha Henrieta Maria, Mary retornou a Inglaterra e estabeleceu-se em Londres. Há 33 anos ela saíra de sua pátria pela primeira vez, e há vinte não a visitava. Por incrível que pareça, ela pretendia abrir um colégio na agitada cidade... Escreveu a Roma sobre este plano, observando que isto não poderia se realizar sem um milagre. E o milagre não aconteceu...
     Em setembro de 1642, diante das convulsões da guerra civil em Londres, foi para Heworth, perto de York; em Yorkshire também chegaram as tropas dos parlamentaristas. Na cidade assediada, as pessoas buscavam consolo e ajuda junto a esta mulher de quem emanava sossego e bondade.
     Isto não era novo ao longo da vida de Mary Ward: ajudar as pessoas foi a finalidade de toda sua vida. Devia ter a amabilidade extraordinária que ganhava os corações. Certa vez que Mary esteve em Londres, suas palavras zelosas e persuasivas levaram sua tia, Srta. Gray, a falar com um padre da Sociedade de Jesus com vistas a aceitar a fé verdadeira. Mary conseguiu trazê-lo de volta a fé em seu leito de morte e após obstinada heresia; o sacerdote recebeu o Sagrado Viático com grande devoção,
     Mary Ward faleceu no dia 30 de janeiro de 1645 em Heworth. A pedra sobre seu túmulo no cemitério da vila de Osbaldwick é preservada até a atualidade.
     Sua obra, entretanto, não foi destruída. Ela reviveu gradualmente e se desenvolveu seguindo as linhas gerais do primeiro projeto.    
     Atualmente existem 85 casas na Baviera, com 1153 membros, 90 postulantes, 1225 pensionistas, 11.447 alunos e 1472 órfãos. Quatro casas na Índia, uma em Roma e duas na Inglaterra estão sujeitas a Nymphenburg. A casa em Mainz escapou da secularização, sendo poupada por Napoleão na condição de que toda conexão com a Baviera deveria cessar. É agora a Casa-mãe de um ramo que tem oito casas filiais.
     Há 19 casas do instituto na Irlanda, 8 casas no Canadá, 3 nos Estados Unidos, 7 na Inglaterra, cerca de 180 casas em total. Devido à variedade de nomes e à independência dos ramos e casas, a unidade essencial do instituto não é prontamente reconhecida. As "Virgens Inglesas", ou "senhoras inglesas", são o título sob o qual os membros são conhecidos na Alemanha e na Itália, enquanto na Irlanda o nome mais conhecido é "Freiras de Loretto", do nome do famoso santuário italiano dado à Casa-mãe em Rathfarnham. Cada ramo tem seu próprio noviciado, e vários têm suas constituições especiais aprovadas pela Santa Sé.
     O "Instituto de Maria" é o título oficial de todos; todos seguem a regra aprovada por Clemente XI em 1703, e participam da aprovação do Instituto dado por Pio IX, em 1877.
     As irmãs dedicam-se principalmente à educação das meninas em internatos e academias, mas também atuam nas escolas primárias e secundárias, na formação de professores, na instrução nos ofícios e na economia doméstica, e no cuidado dos órfãos. Vários membros do instituto também se tornaram conhecidos como escritores.
     Mary Ward foi declarada Venerável por Bento XVI em 19 de dezembro de 2009. O Papa Pio XII, referindo-se a Mary Ward, se expressou dizendo: "Convém lembrarmos de uma grande figura da história católica: Mary Ward, essa mulher incomparável que nas horas mais negras e sangrentas, a Inglaterra deu à Igreja".

Fonte: www.nobility.org; http://irlandesasloreto.org/es/content/vida-de-mary-ward
As primeiras religiosas do Instituto



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