sexta-feira, 30 de junho de 2017

Preciosíssimo Sangue de Jesus - 1º de julho

 

     O Evangelho atesta que um dos soldados que vigiavam aos pés da cruz abriu com a lança o lado de Jesus na cruz e ele, que era cego, recuperou a visão. Segundo a tradição, aquele soldado, de nome Longino, recolheu um pouco de terra embebida do sangue que escorrera da ferida por ele mesmo provocada e levou-a para Mântua, onde enterrou-a. Ali foi encontrada no ano de 804.
     Na ocasião, o Papa Leão III ali esteve para venerar aquela relíquia da Paixão, reconhecendo a cidade de Mântua como sede de bispado. Desde então houve um desenvolvimento religioso, cultural e civil naquela cidade.
     Para acolher o Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo foram construídas sucessivamente três igrejas, sendo a última a Basílica de Santo André, meta de inúmeros peregrinos ilustres e anônimos, movidos pela intenção de venerar este símbolo do mistério da Redenção e do dom da Eucaristia.
     A devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus remonta a Igreja nascente, sobretudo em reverência ao sangue de Jesus derramado na cruz e também em alusão ao sangue de Cristo na Eucaristia.
     Foi, porém, no XIX, que São Gaspar Del Búfalo empreendeu grande campanha na propagação dessa devoção, cujo reconhecimento pela Sé Apostólica permitiu a composição da Missa e Ofício próprio por ordem do Papa Bento XIV. Por isso, até hoje São Gaspar é reconhecido pela Igreja Católica como o "Apóstolo do Preciosíssimo Sangue".
     Graças ao Papa Pio IX, a devoção foi estendida à toda Igreja e foi estabelecido o dia 1º de julho como o seu dia. Isso porque em 1848 ele foi expulso de Roma por forças revolucionárias e no ano seguinte, em 1849, invocando e dando graças pelo "sangue derramado por Jesus por amor aos homens de todos os tempos", os exércitos franceses permitiram-lhe voltar após um ataque que durou de 28 de junho a 1º de julho. Assim o Sumo Pontífice seguinte, São Pio X, criou esta festa, situando-a no dia em que ao seu antecessor foi possível voltar a Roma.

Reflexão:
     Quando pensamos no Sangue infinitamente Precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, esse Sangue gerado no seio de Nossa Senhora, esse Sangue que sai desse Corpo, de onde nunca deveria ter saído, esse Sangue que, como tudo no Corpo de Cristo, está em união hipostática com Ele e que sai do Seu organismo sagrado como que simbolizando toda a dignidade desse organismo — mais ou menos como o vinho que sai da uva e que representa todo o suco da uva, aquilo que a uva tem de melhor —, esse Sangue, que é o sangue de Davi, que é o sangue de Maria, que é o Sangue do Homem-Deus e que, por uma série de atos de violência deicida inomináveis, pela flagelação, pela coroação de espinhos, pela cruz carregada, pelos tormentos de toda espécie, pior do que isso, pelo tormento da alma quando Nosso Senhor, na agonia, começou a sofrer e que o sangue transudava de todo o seu Corpo, esse Sangue que se derrama pelo chão e que fica atestando de modo clamoroso a injúria feita ao Homem-Deus, esse sangue assim é uma tal manifestação de onde pode ir a maldade humana, é uma tal manifestação do mistério da iniquidade, é uma tal manifestação de quanto Deus tolera, que é um memorial para nós, para compreendermos que a natureza humana decaída - sobretudo quando dirigida pelo pecado e dirigida pelo demônio - é capaz de ir até o fim e não recua diante de nada.
     Portanto, diante do mal, todas as desconfianças são de rigor. Isto está exatamente no preceito: “Vigiai e orai”. É preciso ter desconfiança, porque o mal é capaz de tudo, é capaz das piores infâmias e tudo se pode esperar dele e, contra ele, se podem empregar todas as violências preventivas que se possam empregar segundo a Lei de Deus e dos homens. Tudo quanto é dormir a respeito dele, tudo quanto é otimismo bobo, tudo quanto é deixar para depois em seu combate, tudo isso é um verdadeiro crime, porque até lá o mal foi capaz de ir e, portanto, ele foi capaz de tudo. O mal quer toda espécie de mal e é capaz de chegar até o fundo na ordem do mal. [...]
     Não é possível falar desse assunto sem tocar em outro. Em 1º lugar, qualquer consideração sobre o Sangue de Cristo nos faz lembrar as lágrimas de Maria, vertidas junto com o Sangue de Cristo. Depois, uma consideração sobre a Eucaristia. Nosso Senhor não quis que Nossa Senhora vertesse uma gota de Seu sangue. E tendo permitido que se fizesse tudo contra Ele, não permitiu que as potências do mal tocassem sequer com a ponta do dedo em Sua Mãe Imaculada. [...]
     Nossa Senhora verteu uma forma de sangue: foram Suas lágrimas. Pode-se dizer que as lágrimas são o sangue da alma e que Ela sofreu nela toda a dor da morte dEle, e que é impossível pensarmos no Sangue de Cristo quando não pensamos, ao mesmo tempo, nas lágrimas de Maria que se juntaram a esse Sangue e que foi o primeiro tributo da Cristandade para completar aquilo que Deus quis que fosse completado em Sua Paixão, pelo sofrimento dos fiéis, para que as almas se salvassem em quantidade.
     Por fim, é preciso pensar na Sagrada Eucaristia. Esse sangue de Cristo foi vertido pelas ruas, pelas praças, no Pretório de Pilatos, no alto do Calvário, e esse Sangue de Cristo está inteiro na Sagrada Eucaristia. E quantos de nós talvez tenhamos recebido ontem, hoje, amanhã, depois não sei quantos dias, o Sangue de Cristo dentro de nós.
     Então, quando recebermos o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos nos lembrar disso. Esse Precioso Sangue, derramado por nós, é por nós recebido. Ele, dentro de nós, está como o sangue de Abel, mas não para clamar castigo contra nós, mas para clamar misericórdia por nós. Então, recebermos a Eucaristia com muita confiança, com muita alegria, porque recebemos o Sangue de Cristo que sobe ao céu e brada pedindo por nós.

Excertos de SD, 1° de julho de 1965 - Plinio Corrêa de Oliveira - O Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo


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