quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Beata Maria Micaela Baldoví Trull, Abadessa bernardina, mártir - 9 de novembro

    
     Nasceu em Algemesi, Valencia, Espanha, em 28 de abril de 1869. Contava 67 anos de idade quando sofreu o martírio. Seu nome civil era Maria da Saúde Baldoví Trull, filha de João Batista e Joaquina; foi batizada na paroquia de São Jaime e confirmada em 1879. Embora em menina não tivesse frequentado centros educativos, nem em sua juventude tivesse estudado, possuía uma grande capacidade intelectual que ela mesma se encarregou de cultivar e ampliar, destacando-se o seu autodomínio.
     Ingressou na Ordem Cisterciense em 1892, no mosteiro de Gratia Dei, em La Zaydia, Valencia, tendo feito seus votos solenes com 24 anos. Desempenhou as tarefas de porteira, roupeira, administradora dos bens do mosteiro, e finalmente, como era muito fiel às regras monásticas da Ordem, foi eleita abadessa em 1917 até 1921. Madre Maria Micaela como abadessa foi muito amada por suas filhas, pois exercia seu governo com muito espírito maternal e profunda compreensão das fraquezas humanas.
     Em 1927, desejando ampliar a Ordem, fundou um novo mosteiro, Fons Salutis, para o qual se transferiu em 30 de outubro de 1927 com outras monjas, sendo a primeira abadessa da comunidade.
     Quando da Guerra Civil de 1936, a comunidade se viu obrigada a retirar-se do mosteiro. Isto ocorreu em 21 de julho; na madrugada do dia 22, após a santa missa e tendo consumido todas as hóstias sagradas, a comunidade abandonou o mosteiro e a Madre Maria Micaela foi viver com os irmãos João Batista e Encarnação.
     No dia 16 de outubro, as duas irmãs foram detidas e encarceradas precisamente em Fons Salutis, o mesmo mosteiro que Madre Maria Micaela havia fundado e que agora era usado como cárcere. Inclusive lhe deram como calabouço a mesma cela que ela havia usado como abadessa.
     Os diversos interrogatórios a que foi submetida lhe causaram grande sofrimento, pois foram muito duros com ela. Porém, esquecendo-se de si mesma se dedicava em consolar e animar as demais religiosas prisioneiras, rezava sem cessar e era vista beijando as paredes de sua cela, como santificando sua própria prisão. Desta atitude corajosa e exemplar ficou-nos vários testemunhos de pessoas que conviveram com ela.
     Eu fui presa e levada para o convento de Fons Salutis, convertido em prisão, creio que em 26 10 1936, e me colocaram na cela que havia sido ocupada por Maria Teresa Roig e suas 4 filhas, que foram mortas no dia anterior. Uma vez na cela, a Madre Micaela, que estava na cela ao lado, me chamou batendo na parede e perguntando-me quem era e o que acontecia na rua. Logo, um carcereiro chamado Pedro Fernandez abriu as celas e falei com ela, que se mostrava muito animada e corajosa e me disse: “Quem diria que esta convento que eu fundei ia ser minha prisão, ocupando a mesma cela de abadessa e de presa!”, e acrescentou que, quando chegasse o momento da morte, devíamos gritar: ‘Viva Cristo Rei!’, e as demais responder: ‘Viva!’. Este foi o tema da conversação durante os dias que convivemos juntas na prisão, mostrando-se sempre muito animada”. (Josefa Giner Botella, prisioneira)
     Eu estava ocupando o cargo de chefe do Corpo de Guarda, que vigiava o mosteiro prisão, onde estava presa M. Micaela. Quantas vezes fui abrir a cela em que ela se encontrava, a via recolhida, mas sem perder o ânimo, estava muito recolhida interiormente. Algumas vezes ajoelhada e outras rezando”. (Pedro Fernandez Lopez, carcereiro)
     Finalmente, em 9 de novembro de 1936, por volta das 9 h da noite, a fuzilaram bem como a sua irmã Encarnação, na estrada de Benifaió, no fim do município de Almussales. Parece que Encarnação morreu logo, mas Madre Micaela ficou com vida e agonizou durante toda a noite, até que ao amanhecer cortaram sua cabeça.
     Ao terminar a guerra, após uma longa investigação, seus corpos foram encontrados, exumados e recuperados. Com grande horror encontraram as duas cabeças separadas do tronco, o que revelava que as irmãs foram decapitadas. Seus restos foram enterrados no cemitério de Benifaió e foram transladados depois para Algemesi e inumados em Fons Salutis em 1974.
     Madre Maria Micaela foi beatificada em 3 de outubro de 2015.

O Mosteiro cisterciense de Fons Salutis

     Este mosteiro, filial do Real Mosteiro de Nossa Senhora de Gratia Dei (Zaydia) de Valencia, foi inaugurado em 30 de outubro de 1927. A primeira pedra fora colocada em julho de 1925.
     As religiosas que formaram a primeira comunidade: Madre Maria Micaela, abadessa, Soror Trindade Esteve Medes, Soror Rosalia Castell Vázquez, Soror Natividade Medes Ferrís, Soror Josefa Toraz e a noviça Gerardina Peñaroya.
     Madre Maria Micaela Baldoví e Irmã Natividade (Úrsula) Medes, foram martirizadas em 1936 e beatificadas.
    Era um mosteiro pequeno, inacabado (nunca se terminou o projeto previsto). Assim narrava este evento a imprensa da época:
     "Às três da tarde de ontem o reverendíssimo prelado de Algemesi se dirigiu ao local fora da cidade onde foi construído um belo mosteiro para as religiosas cistercienses de São Bernardo, que ocupavam o antiquíssimo convento Zaydía.
     “As religiosas, algumas das quais há 30 anos vivem em clausura, e durante este período não haviam pisado as ruas, transladaram-se do seu convento até a Real Capela de Nossa Senhora dos Desamparados para se despedir da celestial Patrona de Valencia, e em veículos preparados para isto, se dirigiram a Algemesi, onde visitaram a igreja paroquial, prestando homenagem de seu amor e veneração à Santíssima Virgem da Saúde.
     “Também o Sr. Arcebispo fez sua viagem de automóvel, acompanhado de seu capelão, Doutor Benavent, os cônegos doutores Cabanes e Montañana, pároco prior da Colegiata de São Bartolomeu, doutor Pérez Thous e outros sacerdotes”.

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